Se observarmos os indicadores econômicos de 2023, verificaremos que houve grande avanço e surpresas. Ou seja, a economia brasileira teve desempenho acima do esperado.
Em janeiro do ano passado, as projeções carregavam relativo pessimismo e crescimento abaixo de 1,0%. Dado pífio diante do que se esperava do PIB em 2023, tendo muito a ver com a percepção sobre o arcabouço fiscal.
Lembrando que este artigo foi redigido quando ainda não estavam disponíveis os dados do último trimestre e do fechamento de 2023, mesmo assim é muito provável que tenhamos crescido entre 2,6% e 3,0% no ano passado. Assim apontam projeções já realizadas. Sinal de que muita coisa mudou de janeiro até dezembro.
Além da implementação de políticas públicas, como o Desenrola Brasil, o aumento dos gastos públicos em geral pode ter causado aceleração econômica. Também a espetacular performance do setor primário – batendo recordes de produção e exportações – auxiliou a puxar a cadeia produtiva do agronegócio, a estimular a economia, bem como a estabilizar preços. O boom agrícola originou o processo de desinflação. Em outras palavras, teve inflação, porém menor.
A inflação de 2023 cravou 4,62%, inferior à de 2022, que bateu 5,79%, e a de 2021, bem elevada, que chegou a 10,06%.
Esse fenômeno é para se comemorar porque o resultado esteve dentro da meta visada pelo Banco Central. Além disso, gerou-se melhor sensação para as famílias, uma vez que os preços em geral apresentaram queda no ritmo de crescimento. Isso permitiu espaços para novas compras por um lado, bem como para o endividamento por outro. O contexto foi salutar para o comércio.
Segundo o IBGE, no acumulado do ano de 2023, até novembro, o comércio varejista vendeu cerca de 2,3%, enquanto no mesmo período de 2022 recuou -0,8%. Já em 2021 cresceu 1,2%, por causa da base fraca com a pandemia e do endividamento das famílias.
Para 2024, as esperanças, hoje, apontam para algo entre 2% e 3% de crescimento do faturamento comercial, percentual que reflete o que se espera do consumo interno ao longo do ano.
Dentre as variáveis que se comportaram bem, o câmbio vem cumprindo com a missão de não afetar muito a formação de preços na economia, ao passo que os juros devem continuar a tendência declinante. Juntos terão o efeito de facilitar o consumo e também o endividamento, além de gerar investimentos mais para a frente.
Para o mercado, boa parte do crescimento esperado para 2024 é de 1,59%. Esta taxa poderá ser sustentada pela demanda doméstica. Ao que tudo indica, o corrente ano poderá apresentar crescimento menor do que no ano passado, tendo como resultado um índice menor de empregos gerados. Mesmo assim, com a inflação estimada abaixo da de 2023 – hoje marcada pelo mercado em 3,87% – além de contemplar o atingimento da meta, isto deverá propiciar maior poder de compra.
As idiossincrasias do mercado podem ser alternadas à medida em que outros acontecimentos irão reverberar, assim como as ações das políticas públicas, produzindo efeitos benéficos. Pelo menos é o que se espera.
Consequentemente, algumas bases calcadas na realidade poderão trazer lateralidade dos fatos. As eleições municipais são uma delas. As campanhas normalmente estimulam setores vinculados a estes períodos, o que contribui para fortalecer ainda mais o potencial de crescimento da economia. Afinal, a agenda contempla os poderes Executivo e Legislativo de 5.570 municípios brasileiros (IBGE).
Artigo publicado na revista O LOJISTA, edição especial de 90 anos, em fevereiro de 2024.