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Queda dos juros e o impacto no comércio

Desinflação é fato e não existe risco de descontrole da inflação.

 

Por Aldo Gonçalves

Presidente do SindilojasRio e do CDLRio

A recente diminuição de meio ponto percentual da taxa de juros básica da economia brasileira, de 13,25% para 12,75%, implementada pelo Copom do Banco Central, confirmou o que já era esperado pelo mercado.

Com essa medida, o Brasil deixou o pódio dos maiores juros reais do mundo descendo para o quarto lugar, ultrapassado pelo México, tendo à frente Argentina em primeiro e depois a Rússia. Não obstante a redução da Selic, os juros reais no país encontram-se altos, por volta de 8%.

Se por um lado isso ainda acontece, a decisão do Copom intui a esperar mais cortes porque outros indicadores contribuem para influenciar esse processo. Hoje, a desinflação é fato, puxada pelas retrações sucessivas dos preços na indústria e no atacado; não existe risco de a inflação descontrolar; há expansão da atividade agropecuária; o câmbio se mantém estável e os preços dos serviços desaceleraram.

Por conta desses e outros fatores, o mercado agora estima que, até dezembro, a Selic poderá cair um ponto percentual, batendo na casa de 11,75%. Nesse compasso, para o ano que vem as previsões chegam a 9%.

As perspectivas de continuidade de redução da Selic, então, se tornaram críveis, embora o Banco Central alerte para a necessidade do controle da política fiscal. Déficits sucessivos podem fazer com que a autoridade monetária reveja as diretrizes da trajetória descendente dos juros.

 

Redução da Selic melhora otimismo

O corte da Selic, sua tendência declinante e o avanço da economia intensificaram o otimismo para esta segunda metade do ano. Acenderam luzes sobre o comércio, em particular, devido à possibilidade de vendas maiores, assim como à contratação de temporários. Muito possivelmente, se continuarem os cortes de 0,5 pp na Selic, haverá espaços para a superação de vendas frente a 2022.

Há pouco, o governo revisou o crescimento do PIB para 3,2% em 2023. Com isso, mais o dado do crescimento do varejo de 0,7% em julho e o desempenho de outras variáveis, as entidades que lidam e representam o comércio varejista divulgaram para cima novas projeções de vendas.

Em tese, no âmbito da queda da Selic, oportuniza-se o surgimento do ciclo virtuoso, capitaneado pela melhoria do custo do crédito e seus efeitos benignos sobre consumo e investimentos, uma vez que serve de alavanca para estimular a circulação de moeda junto aos setores produtivos.

O custo da dívida pública diminui, o governo sinaliza ao mercado que os demais juros podem baixar e que se espera que a demanda fique aquecida. Para os empresários, a queda dos juros é salutar pelo impacto positivo aos negócios, face ao aumento potencial das vendas. E aos consumidores o carregamento da dívida futura fica menor, cabendo mais compras no orçamento.

Diante das atuais circunstâncias, o nível de emprego deverá continuar crescendo, igualmente a renda das famílias e intenções de compra. Estes são fatores que fermentam, por meio do aumento do consumo, perspectivas auspiciosas para o término deste 2023.

Com base nessas hipóteses, acredita-se, portanto, que o final do ano ainda poderá surpreender, revelando números mais positivos do que os esperados até então. Para isso acontecer, é necessário que as condições econômicas expostas até o momento prevaleçam, de forma que a Selic prossiga em queda.

Publicado no jornal Monitor Mercantil em 27/9/2023.