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Endividamento, Juros Altos e as Vendas do Comércio

A atividade comercial tem enfrentado dificuldades para vender. O papel atribuído ao comerciante de proporcionar acesso aos bens para as famílias em qualquer localidade vem se tornando preocupante na medida em que a conjuntura da economia contextualiza restrições.

Apesar de o mercado de trabalho surpreender, apresentando-se aquecido com o desemprego revelando níveis históricos baixos (5,6% em setembro), o direcionamento da renda para o consumo de bens tem se mostrado insuficiente para performar ganhos para os comerciantes.

Para explicar a situação será preciso reconhecer que os preços têm ficado acima da meta inflacionária e do teto aceitável. No acumulado de doze meses até agosto deste ano, bateram 5,13%, enquanto em igual momento até agosto do ano passado atingiram 4,34%. Em ambos os períodos, maior que 3,0% e, nos últimos meses, superior a 4,85%.

Por mais que o comércio sacrifique margens para continuar ofertando produtos, o repasse do aumento de custos torna-se inevitável muitas vezes. O dólar ultrapassou R$ 6,00 no começo do ano, gerou incertezas e houve transmissão para a formação de outros preços. Alimentos, commodities e combustíveis pressionaram. Também influenciaram as expectativas do tarifaço norte-americano, a instabilidade política interna e a elevação dos juros.

O peso da inflação recai sobre os consumidores, individualmente, através do custo de vida, que representa o impacto sobre os orçamentos. Dessa forma, o custo de vida supera a inflação, fazendo com que a percepção da carestia seja maior do que a registrada pelos índices.

Normalmente a renda destina-se à aquisição de bens e serviços, pagamentos de dívidas ou não, e o restante, para poupança. Neste ano, até julho, na passagem de um mês contra o anterior, o comércio registrou crescimento de vendas apenas no primeiro trimestre. Portanto, nos últimos quatro meses acusou quedas sucessivas.

Já os serviços prestados às famílias tiveram comportamento parecido no tocante à frequência da diminuição. Foram quatro quedas no total, sendo três seguidas de abril a junho, com aumento apenas em fevereiro (0,4%) e julho (0,3%).  Isso se constitui num sinal de que tem havido aperto nos gastos dos consumidores.

Assim, pode-se estimar que as retrações das vendas do comércio e serviços encontram razão nas dificuldades pelas quais as pessoas vêm passando para honrar pagamentos das dívidas ou poderem guardar dinheiro.

Segundo pesquisa do Banco Central, os juros anuais encontram-se em órbita. No cartão de crédito rotativo total vão de 1,67% a 993,92%; no cheque especial, de 48,75% a 167,45%; no crédito consignado do INSS de 20,86% a 32,84%; e no crédito pessoal não consignado até 932,08% ao ano.

Havendo endividamento para complementar renda e consumo, ter status ou suprir alguma emergência, essas taxas assumem importância na vida financeira de qualquer um.

Não é à toa que os indicadores de endividamento preocupam, uma vez que contribuem para justificar a baixa do consumo (de bens e serviços) ao se revelarem crescentes nos últimos meses.

São mais de 13,2 milhões de brasileiros com alguma dívida. Cerca de 5,2 milhões possuem atraso no pagamento; e 2,2 milhões asseguram não ter condições para pagar.

São contingentes populacionais significativos para expressar que a economia vem perdendo fôlego. Neste cenário, o comércio não conseguirá repetir o desempenho do ano passado (4,7%); os juros e inflação sufocarão orçamentos interferindo nas decisões de consumo; e, com efeito, o crescimento esperado da economia (2,16%) será inferior ao do ano passado (3,4%), criando para 2026 (1,80%) e 2027 (1,90%) estimativas abaixo do potencial de evolução.