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Por dentro da Economia | 2026 está chegando com poucas mudanças na economia

Em todo final de ano renovam-se as esperanças de um ano novo melhor. Salvo surpresas, a permanência da taxa Selic na casa dos dois dígitos por bom tempo, para combater a inflação, mais o alto endividamento das famílias e das empresas diminuirão o ritmo da economia. Sendo assim, basta esperar para ver: a economia em 2024 terá crescido mais do que neste ano e, em 2026, ficará abaixo de 2025.

Este ano, o desaquecimento econômico deu-se de maneira forte no primeiro semestre. Influenciaram nesse sentido fatores que irão repercutir no segundo semestre, como as medidas protecionistas oriundas do tarifaço dos EUA, a reconfiguração dos preços no mercado internacional e a mudança dos parceiros do comércio exterior. Uma nova fotografia do fluxo de bens e serviços externos teve que ser tirada porque as medidas foram duras, obrigando os países a se adequarem à nova realidade imposta pelos norte-americanos. Diante do cenário global de incertezas, o dólar disparou pressionando a inflação, que passou a enfrentar o remédio amargo dos juros elevados.

Neste ano, em janeiro, o dólar cotou acima de R$ 6,20 e depois começou a perder fôlego a partir de junho (R$ 5,66) com mais ênfase. No final de novembro estava em R$ 5,33. Relativamente, esse
movimento correspondeu a uma queda de -14,0%.

O comportamento do dólar em queda favoreceu a formação dos preços, principalmente no atacado, das indústrias que importam e para os índices que sofrem forte influência do câmbio em sua composição. Assim, o que se verifica, atualmente, é a estabilidade dos preços na origem da cadeia produtiva, com baixos impactos até chegar no varejo. Por exemplo, se a inflação de outubro subiu apenas 0,09% frente a setembro, acumulando em doze meses 4,68%, no IGP-M os efeitos decrescentes do câmbio são mais percebidos. Em outubro, este indicador caiu 0,36% e no ano acumulou -1,30%.

Já o IPA (Índice dos Preços no Atacado), em outubro, contraiu 0,59% e, em 10 meses, encolheu -3,49%. De igual modo seguiu o IPP (Índice de Preços ao Produtor), levantado pelo IBGE.

O IPP variou -0,25% em setembro, sendo que, nos nove primeiros meses deste ano, retraiu-se 3,87%. Em suma, a queda do dólar, as belíssimas safras da agricultura e a produção animal crescente beneficiaram os consumidores. O que vem atrapalhando é o remédio e a dosagem para conter a alta dos preços, os juros. Mantida a Selic em 15,0% desde julho até o fim de novembro, têm-se juros reais num patamar estratosférico. Um exemplo: a taxa média para pessoas físicas nas operações de crédito vem subindo desde janeiro de 2024, quando bateu 32,25% até atingir 36,56% em outubro deste ano.

Evidentemente, isso rebate no consumo e no ritmo do crescimento do emprego, para citar variáveis que resfriam com o aumento dos juros. O ano de 2024 fechou o saldo do emprego com a absorção de 1.678.025 novos trabalhadores. Até setembro, esse volume era maior: 1.995.419 admitidos. Em 2025, o ritmo do emprego diminuiu com a geração de menos de 280 mil novas ocupações. A queda é de, aproximadamente, 14,0% sobre o saldo acumulado até setembro do ano passado, quando foram criados 1.715.503 novos empregos.

Sobre o consumo, se no ano passado o comércio cresceu 4,7%, a maior variação desde 2012, neste ano poderá ficar entre 3,5% e 4,0%, embora possa surpreender positivamente devido à pujança do consumo e à estabilidade dos preços no fim de ano. No corrente ano, as vendas estimadas com a Black Friday e o Natal se repetem em 5,0% para cada evento.

A proximidade das datas e as promoções de novembro suscitam questões como: será que a Black Friday está tirando a potência das vendas do Natal? Os consumidores estão aproveitando os descontos para antecipar compras? Ao mesmo tempo, a despeito desses questionamentos, é importante frisar que a segunda parte do décimo-terceiro será gasta somente agora em dezembro.

Para o fechamento do presente exercício, o mercado está prevendo inflação em 4,45% e PIB com acréscimo de 2,16%, portanto abaixo do de 2024 quando a economia brasileira cresceu 3,4%. O dólar pode encerrar em R$ 5,40 e a Selic permanece em 15,0%.

Para 2026, a inflação deve ceder, mas não muito, e talvez ainda fique distante dos 3,0% que é o centro da meta. Com base nisso, o mercado acredita que o IPCA possa atingir 4,18%. Essa previsão reflete a resistência dos preços em subir menos, ainda que os juros fiquem altos, com tendência decrescente. A inflação resistente pode ser devido ao nível de consumo, ainda alto no entendimento da autoridade monetária.

Nesse aspecto, as estimativas concentram-se no sentido de que a Selic chegará a 12,0%, diminuindo três pontos percentuais ao longo do próximo ano. Ruim é o fato de que a taxa básica continua na casa dos dois dígitos, muito elevada, portanto. Em contrapartida, o dólar poderá subir um pouco, algo por volta de 2,0%, gravitando sua cotação em R$ 5,50.

Enquanto a economia sustenta a infraestrutura material e produtiva, o País será envolvido pelas eleições. Em anos de eleições, normalmente, a demanda aumenta devido à produção de bens e serviços em torno das candidaturas e gastos de campanha. Crescem emprego, ocupação temporária e negócios. Em adição, mais dinheiro circula fomentando a economia.

As eleições serão majoritárias. Sem muitas definições do quadro político, o que se apresenta para a economia é a tendência preocupante da evolução do déficit fiscal bem como da dívida pública. Em 2027, a gastança e o endividamento público somente serão discutidos de modo diferente se houver mudanças no governo.

Até lá, a economia deverá caminhar abaixo de 2,0%, ainda muito influenciada pelo impacto das travas proporcionadas pela política monetária restritiva e a continuidade do aumento da carga tributária. Nessas condições, o mercado formal de trabalho poderá gerar menos vagas do que em 2025, gerando reflexos como a redução das vendas do comércio.

Antonio Everton Jr.
Assessor econômico do SindilojasRio e do CDLRio, Mestre em Economia Empresarial, com MBA e especialização em Micro e Pequenas Empresas.