Observando-se o desempenho das vendas do comércio nacional e do Rio de Janeiro, avaliado na passagem de um mês contra o anterior, percebe-se que o volume de vendas vem caindo recentemente, segundo o IBGE. No Brasil, resultados negativos sucessivos ocorreram em abril (-0,3%), maio (-0,4%) e junho (-0,1%). O comércio no Rio de Janeiro diferenciou-se desse movimento apenas em maio, com as seguintes variações: abril (-1,9%), maio (0,8%) e junho (-0,7%).
Dependendo do prisma, a situação do comércio fluminense pode ser mais preocupante. Isso porque a performance se descola do restante do país, se o critério de comparação for outro, como por exemplo, nas vendas acumuladas no intervalo de doze meses.
Enquanto no Brasil as taxas revelaram-se todas positivas no primeiro semestre, no Rio de Janeiro, de março a junho, elas foram negativas. Logo, por este ângulo, infere-se que o comerciante vem perdendo fôlego para manter-se ativo, dado que os resultados acumulados vêm diminuindo a capacidade de sustentação do estabelecimento.
A performance das vendas do comércio brasileiro no acumulado de 12 meses terminados no mês de referência, contra igual período do ano anterior, aconteceu assim: janeiro (4,0%), fevereiro (3,6%), março (3,1%), abril (3,4%), maio (3,0%) e junho (2,7%). No Rio de Janeiro aconteceu de outro modo, em uma perspectiva pessimista, ultimamente: janeiro (0,9%), fevereiro (0,4%), março (-0,5%), abril (-0,5%), maio (-0,7%) e junho (-0,8%).
O peso da inflação sobre os orçamentos pessoais, juros elevados, preferência dos consumidores por gastos com serviços, mercado de trabalho em ritmo desacelerado e endividamento das famílias podem ser apontados como causas explicativas para a redução das receitas do comércio.
Em um contexto no qual o consumidor vem, crescentemente, utilizando os recursos da internet para realizar compras onde estiver, é possível pressupor que o comércio lojista de rua vem enfrentando, direta ou indiretamente, efeitos da onda de violência e da sensação de insegurança.
Um exemplo disso é o Centro do Rio. Com a configuração do trabalho cada vez mais remoto e, por conseguinte, produzindo o esvaziamento da região, a formação de áreas ermas que causam percepção de risco tem afastado o cliente do comércio de rua, a despeito do horário. Conclusão: menos pessoas, mais lojas fechadas.
As estatísticas do Instituto de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, de 2022 para cá, registram o agravamento dos crimes na sociedade, conferindo com a evolução da insegurança.
De modo geral, só para citar, o total de roubos e furtos de celulares e casos de estelionato têm aumentado. Por outro lado, o número de roubos em estabelecimentos comerciais vem diminuindo, graças às medidas de segurança e investimentos que os lojistas têm realizado.
Na cidade do Rio de Janeiro, de 2022 a 2024, o volume de celulares roubados saltou de 15.741 para 21.391 casos; o de estelionato foi de 119.315 para 138.436; e o número total de roubos cresceu de 104.697 para 106.644. Em sentido oposto, os roubos no comércio caíram de 2.408 para 1.551 ocorrências.
Neste ano, a escala de crimes manteve tendência, refletindo as dificuldades que a sociedade vem enfrentando em combatê-los.
Comparando somente os primeiros semestres de 2022 a 2025, há escalas em roubo de celulares (de 8.679 para 15.666); de estelionato (68.568 a 82.499) e no total de roubos (de 58.379 para 59.628). Já nos estabelecimentos comerciais, os roubos declinaram de 1.387 para 989.
Para mudar esse cenário é necessária a presença do Estado de forma incisiva a fim de inibir a violência. Diante da complexidade do tema e da transversalidade sobre outros problemas – aqui não citamos a camelotagem e a desordem urbana – além de capacitar e armar melhor as forças de segurança, e aumentando o contingente, investir melhor e com qualidade em tecnologia e inteligência seriam recomendações para que as soluções não ficassem distantes.
Por fim, evidentemente, o crescimento da economia local em bases sustentáveis e por bom tempo seria responsável pela retomada das vendas do comércio, deslocando o lojista para um cenário de progresso. Com resultados mais expressivos no combate à violência, a confiança do consumidor poderia ser retratada pela satisfação da experiência presencial no momento da compra.
Antonio Everton Jr.
Mestre em Economia Empresarial, com MBA e especialização em Micro e Pequenas Empresas.